Confusão numa mente confusa ou: hoje bateu a dona nostalgia
Dando uma olhada no meu outro blog, lembrei de um texto corrido (acho que o único por lá), que escrevi numa madrugada de insônia em 2013. Estava começando a faculdade de Jornalismo e me sentia A escritora. Acho que é verdade quando falam que é a escrita que escolhe a gente e não o contrário.
Decidi compartilhar por aqui também. Não lembro o motivo de ter escrito, mas deve ter sido importante.
Confusão numa mente confusa
Em uma noite dessas, daquelas tediosas, abraçada pela chuva e hipnotizada pelo frio, um turbilhão de sentimentos se manifestava naquela mente confusa, misturando-se e se bagunçando exatamente como um furacão violento. É normalmente em noites melancólicas e cansativas, como essa que foi mencionada, que os sentimentos decidem se reunir para fazer uma pequena confusão mental — com qualquer um, com todo mundo — e, também, puxar do fundo da memória as lembranças mais imprevisíveis possíveis (quase sempre as mais terríveis), que levam tempo demais para não ser mais lembradas — porque esquecer é algo impossível nessa situação.
Quando as lembranças se acomodaram, os sentimentos começaram seu ritual de sempre: juntaram-se a tristeza e a saudade para acompanhar as [lembranças] do passado; logo depois, a insegurança substituiu a saudade, acompanhando por certo tempo a tristeza, que logo foi substituída pela euforia e, um pouco mais tarde, pela alegria para acompanhar as [lembranças] do presente; finalmente, quando já amanhecia, as lembranças foram expulsas da mente confusa para dar lugar aos planos futuros. Para recebe-los, a esperança e a incerteza ficaram de mãos dadas, juntos para o que desse e viesse. Convidaram a felicidade, mas ela não se precipitou: não sabia se seria bem-vinda ali, aliás, ninguém sabia. Ninguém tinha como saber. Mas ela confortou todos: disse que ficaria do lado de fora da mente, esperando a sua hora de entrar em cena, e observaria tudo atentamente quando não pudesse participar, afinal, ela não gostaria de ser uma penetra.
Quando perceberam, a noite já havia se recolhido, o frio e a chuva tinham terminado. O dia começava, iluminado pelo sol brilhoso de sempre. Era hora de partir: os sentimentos e as lembranças não tinham mais nada a fazer num dia ensolarado como aquele; eles só agiam nas noites frias e solitárias, quando, normalmente, a angústia tomava conta de todo o coração. Abandonaram a mente silenciosamente, sem nenhum tipo de despedida, deixando-a mais confusa do que ela estava quando os recebeu. O que ficou foi o vazio e a dúvida de quando aquilo iria se repetir, pois era certo, assim como a luz do sol que nascia naquela manhã, que essa reunião ocorreria novamente. Esse ritual será eterno, até que não haja mais passado, presente e futuro para viver.
Finalmente, o sono contagiou toda a mente e a trancou até que estivesse descansada (se é que haveria descanso depois do que acabara de acontecer).
(Julho de 2013)