Quantas perdas cabem na vida de uma mulher?
2020 está sendo um ano realmente marcando pra mim na área da leitura. Ávida por querer descobrir novas histórias desde pequena, principalmente as dos meus ídolos musicais — as biografias são o meu gênero preferido até hoje — , me desinteressei da leitura lá pelos 18 anos e mal toquei em um livro até o ano passado. Até começava a ler, mas não conseguia terminar nenhum. Tenho minha teoria de que a internet fez com que a gente perdesse o desinteresse em histórias, ficcionais ou não, que durassem mais do que uma página inteira escrita. Quanto mais texto, menos interessante fica. Culpada a internet pela instantaneidade das coisas, culpada eu que segui esse fluxo e volto, aos poucos, 6 anos depois.
De janeiro pra cá, finalizei alguns livros, e um dos últimos foi “O peso do pássaro morto”, escrito por Aline Bei. Confesso que nunca ouvi falar na autora, mas achei interessante o título. O julgamento “de capa” me levou a pensar numa história de assassinatos, traições, brigas. Não sei o porquê. Fui ler a sinopse.
Em um grande resumo, o livro conta a história de uma personagem dos seus 8 aos 52 anos de idade. Não fala sobre todos os anos de sua vida, mas os principais acontecimentos da infância, adolescência e vida adulta chegando na terceira idade. O que chama atenção é a forma como o texto é escrito: cortado, como se fossem versos, mas sem rima nenhuma. É de se estranhar no começo, talvez, mas depois a gente se acostuma.
Não é intenção fazer resenha, mas sim comentar o que me fisgou nessa obra. Aparentemente simples nas palavras, a história tem um peso muito forte, principalmente para quem é mulher e lê a história de outra. Uma personagem fictícia, que representa milhares de mulheres em diversas questões.
Milhares de mulheres que, independente da faixa etária, sofrem bullying na escola, têm baixa autoestima por não se encaixar em padrões, é julgada e massacrada por querer passar por novas experiências sexuais, passam por relacionamentos abusivos, são abusadas sexualmente pelos parceiros que roubam a sua confiança, sentem a vergonha de denunciar violências, doméstica ou sexual, e se fecham na sua própria tristeza. A maternidade também é um ponto tocado no texto: como ela não é nenhum paraíso, como a depressão pós parto afeta a alma e o corpo e como lidar com tudo isso sendo julgada como péssima mãe por toda a sociedade.
Sempre digo que ser mulher é massa, mas é foda. É difícil, muito difícil. E esse livro, com palavras leves, porém tocantes e precisas, coloca em jogo isso e a responsabilidade que nós carregamos por toda a vida por termos nascido… mulheres. Não podemos fraquejar, não podemos nos entregar, não podemos errar. E quem desvia desse caminho, está fadada, talvez, à solidão.